Eu não aguento essa viadagem de "inauguration" Pelamô!!!!
Três do Reinaldo Azevedo, as duas primeiras são de chorar:
Queixo para o alto E vem Barack Obama, o autor do feito extraordinário,a estrela da ocorrência invulgar. Ele parece estar sempre fazendo pose para as máquinas fotográficas e para as câmeras — queixo sempre num ângulo obtuso em relação ao chão. E quem está por trás da lente? O “momento histórico”. “Momento histórico na história do planeta” Bem, estou acompanhando há bastante tempo a solenidade de posse de Barack Obama. O que mais se ouve é “momento histórico”. Uma jornalista brasileira achou que “momento histórico” era pouco e não traduzia o espírito da coisa. E então inovou: “É um momento histórico na história do planeta”. Outro repórter, presente, não hesitou: “Estou me beliscando para ver se é verdade”. Todos eles, confessadamente, com os olhos cheios de lágrimas. E eis que surge Barack Obama. O PRIMEIRO DIA DO RESTO DA VIDA REAL Um petralha mandou um comentário indignado. Segundo ele, estou torcendo para Barack Obama quebrar a cara porque, desse modo, eu... Bem, nem li o resto. Por que eu torceria contra o presidente dos EUA que começa hoje o seu mandato? Eu não! Ao contrário: torço para que ele faça um grande trabalho. O fortalecimento dos EUA é vital para a defesa de um sistema de valores que também é o meu. Passei boa parte desta segunda-feira lendo a respeito das peripécias de Obama e vendo-o na TV, na Internet, em toda parte. É compreensível que os olhos do mundo estejam voltados para “o primeiro presidente negro dos Estados Unidos”, como não se cansa de repetir por ai. É evidente que George W. Bush está dando uma mãozinha, não é? HÁ, PRESTEM ATENÇÃO, UM JUÍZO COMPARATIVO EM QUASE TUDO O QUE SE NOTICIA SOBRE BARACK OBAMA. Ele está sendo cotejado com seu antecessor. E, naturalmente, com grandes vantagens. Há um quezinho de alucinação coletiva no ar, e sei que escrever isso já pode ser considerado uma grande ofensa. E em que consiste esse grãozinho de loucura? Compara-se A com B, mas B ainda não existe. O OBAMA QUE HÁ encarna todos os nossos anseios de um mundo mais justo e equilibrado — é, portanto, uma ilusão. O VERDADEIRO OBAMA É AQUELE A HAVER, está no futuro. E não o conhecemos porque ainda não nos é dado viajar no tempo. Ora, - eu também torço para que ele consiga tirar a economia americana da crise o mais rápido possível; - espero mesmo que ele tenha alguma grande idéia para o Oriente Médio não-testada até agora; - chego a rezar para que consiga mover o coração dos aiatolás, sendo mais bem-sucedido do que Moisés ao tentar amolecer o coração do faraó teimoso — que, no entanto, insistia em fazer com que seus mágicos rivalizassem com Aarão, opondo meros truques a feitos miraculosos e divinos; - faço os meus melhores votos para que consiga conter a sanha neoczarista russa e a tirania de resultados da China; - deposito todo o meu entusiasmo no seu esforço de conter o ninhal do jihadismo, lá pelas fronteiras entre o Paquistão e o Afeganistão... Cada uma dessas coisas faria um grande bem ao mundo. Mas o mundo é aquele com que nos deparamos ao acordar, não o que com que sonhamos ao dormir. E há neles alguns atores que preferem não seguir o roteiro, mergulhados em seus próprios interesses e utopias. E algumas dessas utopias falam uma linguagem para nós — ou, ao menos, para os que se identificam com a democracia ocidental — inaceitável. Muitos dirão que George W. Bush foi um presidente de tal sorte lastimável, que o fenômeno é insuperável — e, assim, a comparação se justificaria porque não haveria como piorar. Pode ser, para sorte, então, de Obama... Quase escrevo aqui que jamais se esperou tanto de um presidente dos EUA. Mas me corrigi a tempo: jamais um presidente FOI TÃO BEM-SUCEDIDO NOS SEUS FEITOS ANTES MESMO DE FAZÊ-LOS. Obama é aquele já foi sem ainda ter sido. Parece-me que o mais correto é apontar que há muito não víamos uma máquina de propaganda tão eficaz e competente em captar o espírito do tempo. Esse alinhamento com a opinião pública será certamente uma das marcas registradas do governo Obama — o candidato-presidente que soube tirar o melhor proveito do mundo ligado pela rede mundial de computadores. Obama se tornou uma espécie de avatar planetário. Mais: seria o único homem no mundo que poderia hoje, se quisesse, escrever uma “Biografia do Futuro” como se já estivesse olhando para trás. O avatar internético sabe mexer com as emoções e com a memória da população. Um dia, com tempo, alguém vai se dedicar a descobrir quantos são os discursos famosos de americanos ilustres que Obama já glosou ou usou como mote, procurando demonstrar que o novo está profundamente enraizado na tradição. A fórmula funcionou à perfeição, e ele conseguiu transformar fraqueza em fortaleza: sua inexperiência foi tomada como pureza (ainda não-corrompido pelo “sistema”); suas respostas evasivas sobre muitos assuntos foram lidas como expressão de uma mente não-dogmática — afinal, dogmático é Bush, como sabemos, além de “fundamentalista”, “unilateralista”, “autoritário”, "malvado, "bobo" etc. Um amigo, intelectual dos bons, leu o meu post de ontem sobre Obama, achou que está pouco entusiasmado e me mandou um e-mail: “Ora, Reinaldo, a criação de expectativas é parte do jogo; é parte da política. Se tantos confiam, há uma possibilidade de que ele venha a fazer algo de bom dessa confiança. Por que não lhe dar o benéfico da dúvida?” Tem todo. Mais do que isso: tem a minha torcida, a exemplo do resto do mundo. É que tenho procurado não ficar repetindo mantras do Partido Democrata, que conferem “sentido histórico” à fala do novo presidente até quando ele diz que pretende ter um cachorrinho na Casa Branca ou quando se mostra apaixonado por Michelle. Ou, vá lá, fiquemos assim: o candidato Obama já fez história. Mas a história ainda fará o presidente Obama. |
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